domingo, 28 de novembro de 2021

A explosão criativa dos jovens

 


A pandemia me manteve por um ano e meio longe do circuito cultural. Por meses que pareciam não ter fim, meus programas mais ousados foram fazer supermercado e levar meus bichos ao veterinário. Por conseguinte, não foi sem emoção que reconquistei as ruas pela primeira vez na semana passada para prestigiar a apresentação da peça teatral Cidade dos Loucos, produto de um processo intenso de criação coletiva.

Tive o privilégio de acompanhar o espetáculo desde a concepção, quando, honrada pelo convite do entusiasmado diretor Gabriel Moura, conversei sobre a história dos manicômios no Brasil e política antimanicomial com os garotos e garotas que integram o grupo de Artes Cênicas Antonio Manoel. Soube no decorrer dessa conversa que a ideia era teatralizar passagens do livro O holocausto brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, publicado pela Editora Geração, fazendo o público refletir sobre a questão da saúde mental e a maneira como as pessoas acometidas por variadas condições psiquiátricas são, muitas vezes, silenciadas e marginalizadas. Mas ao longo do processo criativo, os jovens foram além e, depois de estudarem com interesse a história do hospital de Barbacena, questionaram o próprio conceito de loucura e, mesmo sem nunca terem lido Foucault, entenderam as implicações políticas e sociais que estão envolvidas nele. 

Os recortes feitos pelos integrantes do grupo e as interpretações carregam a intensidade das emoções juvenis e trazem os sentimentos à flor da pele, característicos dessa fase da vida e nos jogam, a nós, adultos, àquele tempo em que nos indignávamos mais e acreditávamos mais em nossa capacidade de transformar a realidade. Assistir ao espetáculo Cidade dos Loucos é uma imersão na consciência de que o novo sempre vem e uma recuperação da esperança de que as nuvens carregadas que hoje se acumulam sobre nosso céu varonil estão prestes a se dissipar.