domingo, 17 de fevereiro de 2013

O desenvolvimento das cidades e dos primeiros Estados (Segundo Ano)

Em sala, vimos que a partir de 3600 anos a.C., aproximadamente, as primeiras grandes civilizações orientais se desenvolveram  às margens de grandes rios, cujas águas permitiam não só a irrigação das plantações, como também a fertilidade do solo. No mapa adiante, você pode ter uma ideia dos locais onde essas civilizações se desenvolveram:

Vimos também que o surgimento dessas civilizações veio acompanhado da formação dos primeiros estados da História. É esse processo que está contado abaixo, num texto que escrevi há vários anos, para um livro didático que nunca cheguei a publicar...

"Com a descoberta da agricultura, homens e mulheres se tornavam produtores de seu próprio sustento e, em algumas comunidades, ela até suplantava em importância as atividades de caça e coleta.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com muitos os povos que viviam próximos aos rios Indo, Tigre e Eufrates, na Ásia, ou com aqueles que ocupavam as terras nas margens do rio Nilo, na África. Nessas regiões, o solo extremamente fértil próximo aos rios contrastava com a aridez das áreas mais afastadas, transformando a agricultura na sua principal atividade.

Mas a agricultura exigia que as pessoas permanecessem muito tempo num mesmo lugar, trabalhando duro. Afinal, precisavam preparar a terra e semeá-la, depois tinham que abrir canais para “puxar” e distribuir a água dos rios pela plantação, proteger os brotos novos, regar as mudas, colher os grãos, selecioná-los, secá-los e estocá-los. Que trabalhão! Além disso, a permanência prolongada num mesmo lugar deixava a comunidade mais vulnerável aos ataques de outros grupos que também desejavam ocupar as áreas férteis, sem falar da necessidade de se organizarem expedições para buscar em regiões mais afastadas produtos inexistentes no local, como madeira ou pedras.
Mas não é só! O sedentarismo e a prática da agricultura tinham ainda outras implicações: antes de se fixarem ao solo, as pessoas eram obrigadas a ter poucas crianças pequenas de cada vez, pois elas exigiam cuidados constantes e atrasavam o passo do grupo. Além disso, o nomadismo não facilitava em nada a vida das grávidas, das crianças de colo, dos velhos e dos doentes, que muitas vezes não resistiam aos caprichos da natureza e às longas jornadas. Porém, depois que os grupos humanos passaram a morar num mesmo lugar, o aumento do número de filhos era até bom porque significava mais braços para trabalhar. Velhos e doentes podiam levar uma vida menos atribulada e a oferta de alimentos era mais regular. Tudo isso colaborou para que a população das aldeias crescesse assustadoramente.

Só que era gente demais vivendo no mesmo espaço! Os conflitos dentro do grupo e as disputas pelas melhores terras acirraram-se, impondo a necessidade de se fixarem regras para a comunidade e de se estabelecer uma autoridade que pudesse pô-las em prática. Ao mesmo tempo, sobravam braços para trabalhar na agricultura, o que permitia que uma parte das pessoas se dedicasse a outras atividades e até se especializasse nelas, desde que tivesse assegurado o acesso ao alimento produzido pelos demais.
Proteger a comunidade, organizar expedições comerciais, mediar conflitos, distribuir alimentos...O cumprimento de tantas responsabilidades aumentou a importância e a autoridade das famílias líderes da comunidade e dos chefes de aldeia que, com o passar do tempo, tornavam-se mais e mais poderosos.

Sabemos que esses poderosos chefes também controlavam a produção de alimentos na comunidade, contudo nem todos os historiadores estão de acordo sobre o quê se impôs primeiro: o controle sobre as terras e os camponeses ou a autoridade política. Alguns acham que à medida que acumulavam mais autoridade, os chefes e suas famílias tomavam para si as melhores terras; outros pensam que, ao contrário, foi justamente o controle sobre maiores extensões de terras férteis que os fez tão poderosos. O mais provável é que as duas coisas tenham acontecido ao mesmo tempo.

Seja lá como for, fato é que aquela velha igualdade entre as pessoas da aldeia foi sumindo. Algumas se tornaram mais importantes do que outras, possuindo mais terras e acumulando bens que serviam como “prova” do seu poder.
O conjunto dessas mudanças contribuiu para fazer com que as aldeias crescessem e se transformassem em populosas cidades. Foram erguidos templos para a adoração dos deuses e palácios para os governantes e seus auxiliares, além de muitas casas com tijolos e adobe, tudo firmemente protegido por resistentes muralhas. No campo, apareceram novas técnicas de cultivo: descobriu-se a roda e o arado, e abriram-se poços artificiais e canais de irrigação. A produção agrícola cresceu, permitindo que parte do alimento produzido no campo fosse estocada, comercializada e distribuída no centro urbano, entre as pessoas que se dedicavam a outras atividades como o artesanato, a metalurgia, as funções religiosas e administrativas. 

Os governantes reuniram em torno de si um corpo de auxiliares: fiscais, cobradores de impostos e artesãos especializados, sem falar nos sábios, quase sempre gente ligada à religião, que fazia desde a elaboração dos calendários agrícola e religioso até o censo e o registro das riquezas controladas pelos palácios e templos. Desses registros, nasceriam, por volta de 3 600 a.C., os primeiros sistemas de escrita

É preciso, porém, esclarecer que nem todos os povos transformaram a agricultura em sua atividade econômica central. Por exemplo, mesmo depois dela ter se difundido por largas extensões de terra do Oriente Médio, havia povos pastores que se dedicavam apenas à criação de animais. Já os povos nativos do território que hoje chamamos de Brasil, continuaram priorizando a caça, a pesca e a coleta, apesar de muitos praticarem regularmente a horticultura. Vejam o caso dos povos tupis-guaranis, que habitavam o litoral quando Cabral desembarcou aqui: eles plantavam sobretudo milho e mandioca, mas vivendo numa região farta em peixes e moluscos, caça e frutos silvestres, não dependiam do produto de suas roças. Mesmo no presente, alguns de seus descendentes como os índios Avá-Canoeiro de Goiás e Tocantins, dedicam-se quase que exclusivamente à caça e à coleta.

Portanto, em alguns lugares, como as aldeias que existiam onde hoje são o Brasil, a Itália e o Camboja, desenvolveram-se pequenas lavouras de produtos de subsistência, quer dizer, voltadas para o consumo imediato do dia a dia. Em outras partes do mundo, como no México, Egito, Índia, China e na antiga Mesopotâmia (onde atualmente estão países como Irã e Iraque), a agricultura tornou-se a principal ocupação de milhares de pessoas, produzindo quantidades enormes de grãos, suficientes para serem armazenados por longos períodos ou comercializados com povos de lugares afastados."





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