quarta-feira, 11 de março de 2015

3º ano noturno - cana-de-açucar

A cana-de-açúcar é originária do Sudeste Asiático, a partir de onde foi difundida pelos muçulmanos para a Pérsia, Egito, Palestina, Sicília e península Ibérica durante a Idade Média. Naquele tempo, o açúcar era um produto valorizado e muito caro. Tanto, que chegava a ser arrolado em testamentos e dado como presente de casamento!
Os portugueses começaram a cultivar a cana-de-açúcar no século XV, antes de ocuparem o Brasil. As primeiras experiências de cultivo pelos lusitanos foram feitas no sul de Portugal e nas ilhas de Madeira, São Tomé, Açores e Cabo Verde, na costa africana. 
A cana-de-açúcar chegou ao Brasil com Martim Afonso de Souza, em 1531 e seu cultivo logo prosperou nas capitanias de Pernambuco e São Vicente.

Com o passar do tempo, os engenhos se multiplicaram pela costa da colônia portuguesa na América, concentrando-se no Nordeste. Em 1610, já havia 400 engenhos de açúcar no Brasil!
A instalação de engenhos na colônia foi feita com investimentos de banqueiros da região de Flandres (atual Holanda). Eles também eram responsáveis pelo refino e distribuição do açúcar na Europa. A produção destinava-se especialmente ao mercado externo e era feita em grandes propriedades agrícolas (latifúndios), com o emprego de mão-de-obra escrava africana. O tráfico de escravos constituiu-se como uma atividade econômica bastante lucrativa para a Coroa portuguesa, embora não parecesse tão vantajosa para o produtor. Segundo Caio Prado Jr,

"O processo de substituição do índio pelo negro prolongar-se-á até o fim da era colonial. Far-se-á rapidamente em algumas regiões: Pernambuco, Bahia. Noutras será muito lento, e mesmo imperceptível em certas zonas mais pobres, como no Extremo-Norte (Amazônia), e até o séc. XIX em São Paulo. Contra o escravo negro havia um argumento muito forte: seu custo. Não tanto pelo preço pago na África; mas em conseqüência da grande mortandade a bordo dos navios que faziam o transporte. Mal alimentados, acumulados de forma a haver um máximo de aproveitamento de espaço, suportando longas semanas de confinamento e as piores condições higiênicas, somente uma parte dos cativos alcançavam seu destino. Calcula-se que, em média, apenas 50% chegavam com vida ao Brasil; e destes, muitos estropiados e inutilizados. O valor dos escravos foi assim sempre muito elevado, e somente as regiões mais ricas e florescentes podiam suportá-lo". (PRADO JR, 1981, p. 23).


A produção da cana era responsabilidade do senhor-de engenho, que gozava de muito prestígio social. Ele exercia autoridade sobre os homens livres pobres da região onde tinha sua propriedade, sobre os membros da sua família e sobre os escravos. 
Os engenhos eram instalados nas sesmarias e podiam ter milhares de habitantes. Eram constituídos, via de regra, pela área do canavial, por uma área destinada à produção de bens de subsistência (onde se plantava mandioca, feijões, milho, etc), pela capela, pela casa-grande (onde o senhor de engenho vivia com seus familiares e agregados), pela senzala (onde viviam os escravos) e pela casa-de-engenho. 


Na casa-de-engenho, ficavam a moenda (onde a cana era moída para extrair o caldo), a casa das caldeiras (onde o caldo da cana era fervido até se transformar em melaço) e a casa-de-purgar (aí o açúcar era colocado em potes de barro e deixado para secar até formar os pães-de- açúcar, que seriam exportados). Todavia, havia engenhos menores, que não plantavam a cana, adquirindo-a de outros produtores:

Pães de açúcar, no Museu Nacional do Açúcar e do Àlcool, em Pontal (SP)
"Que seria um engenho, no século do descobrimento? A mesma coisa ainda descrita por Saint-Hilaire, no século XIX. Descreve-o Fernão Cardim: "Cada um deles é uma máquina e fábrica incrível; uns são de água rasteiros, outros de água copeiros, os quais moem mais e com menos gastos; outros não são de água, mas moem com bois, e chamam-se trapiches; estes têm muito maior fábrica e gasto, ainda que moem menos, moem todo o tempo do ano, o que não têm os de água, porque às vezes lhes falta. Em cada um deles, de ordinário há seis, oito e mais fogos brancos e ao menos 60 escravos, que se requerem para o serviço ordinário, mas os mais deles têm cento e duzentos escravos de Guiné e da terra. Os trapiches requerem 60 bois, os quais moem de 12 em 12 revezados; começa-se de ordinário a tarefa à meia-noite e acaba-se ao dia seguinte às três ou quatro horas depois do meio-dia. Em cada tarefa se gasta uma barcada de lenha que tem 12 camadas, e deita 60 fôrmas de açúcar branco, mascavado, mole e alto. Cada fôrma tem pouco mais de meia arroba, ainda que em Pernambuco se usam já grandes de arroba." (AMARAL, 1958, p. 329).

No topo da sociedade açucareira estavam os senhores de engenho, seguidos pelos fazendeiros que não possuíam as instalações para o preparo do açúcar. Eram quase sempre homens brancos, descendentes de portugueses, com muita influência na colônia. Eram eles que controlavam o poder local, representados nas câmaras municipais. Essa era uma sociedade dominada pelos homens, na qual as mulheres ficavam relegadas à vida doméstica e submetidas à autoridade o pai, do marido ou de um irmão. Por isso, dizemos que a sociedade açucareira era patriarcal. Os membros desse grupo social não se misturavam com outros. Assim, a terra e o poder político ficavam sempre nas mãos das mesmas famílias. Portanto, essa era também uma sociedade aristocrática.
Abaixo dos proprietários de terra, havia um grupo não muito numeroso de pessoas livres, brancas ou pardas. Eram advogados, concubinas, padres, capatazes, etc. Boa parte desse grupo era formado por pessoas pobres, que dependiam da proteção e favores dos senhores de engenho. 
A maioria da população da colônia era formada por cativos. Eram homens e mulheres trazidos de diferentes regiões da África como escravos, e empregados nas mais diversas funções. Havia escravos para trabalhar na plantação, para moera a cana, para cuidar dos afazeres domésticos, para trabalhar como carpinteiros, babás, tudo. Praticamente todo trabalho braçal era feito por escravos.




A produção do açúcar e sua comercialização se encaixavam na lógica mercantilista. A colônia era monopólio da Coroa portuguesa e qualquer troca com ela precisava da autorização real. O objetivo da colônia era favorecer o enriquecimento da metrópole e por isso não existia qualquer preocupação com seu próprio enriquecimento. Impunha-se, assim, o pacto colonial. Como resultado, os colonos precisavam aceitar os valores baixos pagos pelos comerciantes lusitanos pelos seus produtos e eram obrigados a pagar valores muito altos pelos bens trazidos da Europa. E não tinha como não pagar por esses bens, uma vez que as leis da Coroa proibiam os colonos de terem manufaturas. O resultado foi a transferência de toda riqueza produzida na colônia para a Europa. 

Para saber sobre o tráfico negreiro e as condições de vida dos escravos no Brasil, assista ao vídeo do link abaixo:

vídeo aula USP - escravidão










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